AS HISTÓRIAS DE MILTON CEGO
Peço a DEUS inspiração
Pra missão que me carrega
No mar poético das rimas
Eu quero ver se navego
Para falar um pouquinho
Do saudoso MILTON CEGO
Milton Fernandes o nome
Que o mesmo foi batizado
Não sei quem era seus pais
Apenas fui informado
Que na fazenda fortuna
Milton Cego foi criado
De Joaquim de Negro Velho
Eu sei que Milton era neto
Da visão não tinha nada
Era cego por completo
Por sua deficiência
Criou-se analfabeto
Em data do mês de abril
De quarenta ele nasceu
Em meio a década de oitenta
Essa figura morreu
É pena que a luz do mundo
Para ele nunca acendeu
Mas vamos falar da vida
De Milton aqui na cidade
Apesar de não ter vista
Mas tinha habilidade
Pra onde alguém lhe mandasse
Ia de boa vontade
Apenas um capricho
Duas coisas não fazia
Ganhando Grana ou de graça
Onde mandasse ele ia
Mas não tinha quem fizesse
Andar na delegacia
Se alguém mandasse ele ir
Fazer jogo com o cambista
Fazia tudo certinho
Mas era bem realista
Só não jogava na cobra
Nem pra ganhar a vista
Histórias de Milton Cego
Tenho muito pra contar
Conhecia todo mundo
Bastava a gente falar
Ou mesmo vindo calado
E na sua mão apertar
Mesmo sem ter visão
Sentia-se bem feliz
Aqui sempre foi liberto
Sempre foi pra onde quis
Só não gostou de morar
Na capital do país
Na capital federal
Mais de três anos morou
A sua felicidade
Foi quando alguém lhe chamou
Pra vir de volta à terrinha
Feliz ele disse que vou
Vieram de lá para cá
Todos com ele brincando
Chegaram aqui lhe dizendo
Que em Patu estavam chegando
Milton já desceu sorrindo
Com a cara dele gozando
Assim que desceu do carro
Tocou com a mãos no chão
Disse para os outros sorrindo
Vocês não me enganam não
Nós estamos na calçada
Do café de Medeirão
Apesar de nunca ter
Enxergado a luz do dia
Pela sua humildade
O povo sempre dizia
Milton é capaz de guiar
Qualquer um cego de guia
Ele era habilidoso
Brincalhão e positivo
Se alguém lhe ofendesse
Por um ou outro motivo
Podia esperar o troco
Que ele era vingativo
Se ele andava na rua
Um cachorro lhe atacasse
Ele fazia com que
O cão com ele amansasse
Mas só se tranquilizava
Um dia quando o matasse
Quando ele conseguia
Ser amigo do animal
Preparava um sanduíche
Pão francês com sonrisal
E fazia do cão amigo
Mais uma vítima fatal
Na praça de Caraúbas
Ouve uma cena eu não vi
Um time de futebol
Da cidade de Apodí
Um deles em praça pública
Sem timidez fez xixi
Milton sendo sabedor
Disse eu vou me vingar
Se ele fez xixi na praça
Querendo desrespeitar
Vou fazer cocô na dele
Pra ver o que vai dar
Com quinze dias depois
Nosso time viajou
Pra jogar em Apodí
Milton Cego disse eu vou
Ninguém pensava em vingança
Mas veja o que ele aprontou
Quando o jogo terminou
Foram pra praça beber
E Milton disse é agora
Não tenho tempo a perder
Fez cocô em Praça pública
Para quem quisesse ver
Quiseram bater no cego
Por esta cena imoral
Quando um caraubense
Disse calma pessoal
Esse pobre além de cego
Também é débil mental
Milton falou bem tranquilo
Em forma de gozação
Agora estou satisfeito
Já fiz minha obrigação
Ser cego isso é verdade
Porém doído eu não sou não
Milton morreu, mas deixou
Seu nome imortalizado
Lá na Casa de Cultura
Seu nome foi lembrado
Tem a sala com seu nome
Pelos atos praticados
Milton figura imortal
Irmão que a morte levou
Lamentável nos deixou
Tristeza reinou geral
O seu momento final
Me entristeceu de verdade
Causando muita saudade
Ele partiu de repente
Guardo a lembrança somente
Onde já foi amizade.
Autor: João do Posto
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